quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Easyjet? Para ontem sff...


Um destes dias num balcão da Sata, enquanto tentava contabilizar milhas, a simpática funcionária disse-me que tinha tido muita sorte com a tarifa "promocional". Na altura fiquei surpreendido. Pelas minhas contas já lá vão quase 30 anos desde o meu primeiro vôo na Sata e ainda espero por qualquer coisa a que possa chamar "promocional."
"Mas o vôo de Lisboa para Santa Maria custou quase 300 euros!", exclamei eu.
"Exacto, uma das nossas melhores tarifas!", ouvi do outro lado do balcão.
Eu imagino que a Sata seja um (senão O) dos maiores empregadores da região e calculo por isso que este assunto seja sensível. Contudo, enquanto passageiro, considero a exclusividade patrocinada pelo Governo Regional uma aberracão. E por várias razões.
Desde logo porque a concorrência beneficia sempre o consumidor. O exemplo mais simples é o da Região Autónoma da Madeira. A entrada da Easyjet aumentou o número de ligacões e os precos dos bilhetes baixaram. Beneficia o consumidor e por arrasto, a região: mais vôos, menor custo, mais visitantes. É a lógica de mercado.
No caso acoriano, há uma proteccão incompreensível à Sata. Honestamente não compreendo quem beneficia com ela...
Ano após ano, o arquipélago vence prémios na categoria de destino "natural". Mas, há uma equivalência directa entre a espectacularidade do destino e as pessoas que efectivamente lá vão? Não, claro que não.
E a primeira razão é o preco de cada bilhete. Já me esqueci a quantas pessoas ouvi o "sonho" de conhecerem os Acores seguido da habitual exclamacão com o custo da passagem.
E não é para menos. Se usarmos o mesmo ponto de partida (Lisboa) e pensarmos nos tais 300 euros que nos levam até Santa Maria, chegamos à conclusão que conseguimos, pelo mesmo valor, chegar a qualquer país europeu. Atenas e Moscovo, por exemplo, "distam" de Lisboa menos de 200 euros. É fácil perceber porque razão os Acores ficam para o "verão seguinte" que um dia chegará.
E é uma pena porque, entre 9 ilhas de rara beleza natural, há muito para ver, ouvir e sentir.
Este verão embarquei para Ponta Delgada com 1 hora de atraso. Em momento algum, no embarque, antes de levantar vôo ou em rota, qualquer funcionário da Sata deu uma justificacão aos passageiros. E, olhando em volta, não me pareceu que qualquer viajante esperasse uma explicacão. Era apenas outro dia. Qual era a alternativa? Ir a nado?
Em rotas disputadas por várias companhias, qualquer atraso de 5 minutos é de imediato justificado. O cliente conta.
Já pensei se seria a necessidade de garantir empregos que fazia o Governo Regional ter esta atitude que, a meu ver, só prejudica a região. Mas...isso também não faz sentido. Mais companhias também geram mais empregos e maior volume de negócios.
É repetida a notícia do interesse da Easyjet em ligar os Acores à parte continental da Europa. Assim sendo, qual é o problema? Se fosse o caixão com asas chamada RyanAir, eu ainda compreendia, mas a Easyjet é uma excelente companhia, com uma frota nova e enorme (cerca de 200 aviões se não me engano), que cumpre horários e que presta um excelente servico. É de longe a melhor low cost europeia. A Sata, com o devido respeito, é um projecto de empresa perto da Easyjet.
Também compreendo que não faz sentido tranformar o turismo dos Acores numa espécie de Algarve, com precos baixos e hordas de gente. Mas não é isso que está aqui em causa. Trata-se apenas de conseguir chegar a Ponta Delgada, o hub da região, sem deixar a pele na compra do bilhete.
Santa Maria descobriu recentemente, através do seu excepcional mar, uma fonte de receita que comeca a chamar europeus do norte. Muito bem, excelente dinamismo e óptimo para a ilha.
Mas...fará sentido pagar pelos 15 minutos que distam de São Miguel, os mesmos 100 euros que a Easyjet cobra por uma ida e volta entre Lisboa e Copenhaga?
Não, não faz sentido. E assim, não há boa iniciativa que resista.